Roubem a bola, meninos!

Aquele gol esmaecido de Pelé virou lenda, como o drible de Domingos da Guia em 38 ou qualquer dos 1339 gols de Arthur Friedenreich. A Copa de 58 na Suécia é história. Há uma taça para provar, mas não há cor, detalhe, slowmotion, replay por vários ângulos. Taça sem brilho. Como as façanhas de Garrincha em 62 ou o encantado futebol holandês de 74.
Agora, não.
O futebol não mais é um espetáculo fugaz – o apito final e adeus. O toque de bola do Barcelona na tarde de terça-feira, quando deu um troco de 4 x 0 no Milan, está à disposição de todos. Agora mesmo. Basta escrever Barca no google e o jogo reaparece na tela.
Daqui a cem anos não haverá versões fantásticas desse jogo, que foi assistido por 94 mil no estádio, 10 milhões na TV espanhola (share de 43%) e multidões pelo mundo. Será a história verdadeira de como o Barcelona se superou para vencer a batalha impossível.
O Milan tem um timão. Entrou no Camp Nou com dois gols de vantagem. O Barca precisava de um 3 x 0 para se manter na Champions. Conseguiu os três e mais um, no finalzinho. Mas viveu uns trinta minutos de muita tensão, porque bastava um gol do adversário para estragar tudo.
A receita do sucesso está na fantástica eficiência de Messi, na fome de bola e na capacidade de Xavi inventar diagonais onde parecia só haver pernas. No Barça ninguém cerca, todos mordem. Roubam a bola, acertam passes, mantém a concentração. Por isso, técnico interino tem coragem para deixar Daniel Alves como ponteiro e reviver o lendário 3-4-3 dos tempos do Cruyff.
Está tudo lá, na tela do computador. Com as cores reais, o detalhe em slowmotion, o replay. E o ensinamento do mestre Gentil Cardoso, para os craques de salto alto, que desfilam arrogância em campos brasileiros: roubem a bola, meninos! Atirem-se nela com a mesma fome que pobre se atira no prato de comida!
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