O Brasil de ontem ensina o Brasil de hoje
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O segundo volume da trilogia Escravidão, do jornalista e historiador Laurentino Gomes, traz preciosa contribuição para entender o momento atual. Com paciência e método, o autor pesquisou um longo período da história do Brasil. Na essência da prática escravocrata apareceram malfeitos dos administradores portugueses. O método não mudou muito.
Vejam, por exemplo, esse dom Lourenço de Almeida, primeiro governador da capitania de Minas Gerais, desmembrada da de São Paulo em 1720. Um bandidaço. A Corte demorou para descobrir seu golpe, que era de incrível simplicidade: retardava decisões importantes e aproveitava o tempo para meter a mão.
Eis a história: descobriram em 1731 que o Brasil não tinha só ouro em abundância; havia também uma fortuna em pedras preciosas em Morrinhos, Minas Gerais. Foram levar a boa notícia a dom Lourenço, que elogiou a descoberta e não decidiu nada; ficou calado durante dez anos. Nesse período chamou sua turma – o ouvidor da comarca, um padre e um vendedor que conhecia o caminho das pedras.
Durante uma década, a quadrilha extraiu e vendeu diamantes ilegalmente. Dom Lourenço tornou-se um dos homens mais ricos de Portugal, com fortuna avaliada em 18 milhões de cruzados, o dobro do que possuía quando era capitão-mor na Índia.
Caiu porque não se aguentou e começou a exibir a patrimônio. Nas cerimônias oficiais, conta Laurentino, um de seus criados ostentava no dedo uma pedra de diamante de 82,5 quilates, cerca de 16,5 gramas.
Isso tudo lembra o caso das vacinas, onde o ministro chamou uma turma de colegas e os colocou em postos-chave. Ficaram encarregados de tomar ou não tomar providências sobre as vacinas, que valem como diamantes numa pandemia. Isso permite, na pior das hipóteses, que um jogue a culpa no outro, até que os investigadores (e o público) se confundam com tantas versões.
Ninguém tira essas coisas espertas do nada. Na cabeça de um Pazuelo o pesquisador é capaz de achar o DNA de um dom Lourenço.
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