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A prova do Enem é um jogo de perde-perde. Frustra quem estudou.
Se seus filhos estão indignados com a avaliação obtida na redação do Enem pode dar uma força – há toneladas de evidências científicas a favor deles.
A prova subjetiva é uma deslealdade com o estudante. Sempre. No vestibular também.
Um exemplo: um grupo de pesquisadores da Universidade Clarion da Pensilvania, EUA, juntou 120 monografias de alunos e tratou-as com um grau de cuidado que seu filho não recebeu – cada trabalho foi avaliado independentemente por 80 professores.
Os conceitos resultantes, numa escala de A a F, por vezes apresentaram variações de 2 ou mais graus. Em média, a diferença foi de quase 1 grau.Confira online em wac.colost.ate.edu/aw/articles/quesenberry2000/quesenberry2000.pdf.
Ou escreva Assessment of the writing component within a university general education program no Google, que ele abre o trabalho.
O cientista Leonard Mlodinow, que comenta a pesquisa em seu livro O Andar do Bêbado, considera um erro desse tamanho absolutamente lamentável porque o futuro de um estudante depende muitas vezes de tais resultados. Mas pergunta: o que ocorre porém se os avaliadores receberem instruções muito precisas e critérios fixos para avaliar os trabalhos?
Um pesquisador da Universidade de Iowa apresentou cerca de 100 trabalhos a um grupo de doutorandos em retórica e comunicação profissional, que recebera extenso treinamento em tais critérios. Dois avaliadores independentes davam notas a cada trabalho numa escala de 1 a 4. Quando as notas foram comparadas, notou-se que os avaliadores só concordavam em cerca de metade dos casos.
Uma analise de notas dadas a trabalhos de admissão para a Universidade do Texas chegou a resultados semelhantes. Está em Report to de Iowa State University Steering Committee on the assessment of ISU Comm-English 105 Course Essays.
Google esse titulo.
E dê um Google também em Inter-rater reliability of holistic measures used in the freshman admissions process of the University of Texas at Austin.
Enquanto não acabar com as questoes subjetivas o Ministério da Educação não pode dizer que a avaliação do Enem é justa.
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O ovo pode conter salmonela e a alface vir temperada com bactérias coli.
Use o link abaixo para assistir ao documentário O Veneno Está na Mesa, do diretor Silvio Tendler. É uma informação de boa qualidade sobre o que contém os alimentos que comemos. O brasileiro está sendo intoxicado pelo que compra no supermercado. Ninguém escapa dessa peste química a menos que pare de comer. Ou que reaja.
Infelizmente, o veneno vai à mesa mas a indignação não chega à rua.
Não vira escândalo. Não empolga o Congresso. Dificilmente alcança a primeira página dos jornais. Jamais terá a dimensão que mereceu por exemplo o julgamento do mensalão.
Mas é crime. Certificar alimentos que contém substâncias cancerígenas é chancelar o homicídio lento de milhares de brasileiros. Difícil contar as vítimas, mas estão ai estatísticas sobre o aumento de doenças.
Uma desculpa para não investigar é o custo dos testes de laboratório. Reagentes continuam caros porque em boa parte ainda são importados. As universidades sobrevivem com orçamentos anêmicos e há pouca gente disposta a pesquisar a letalidade dos alimentos.
Mais fácil e barato controlar o lado de fora da comida. Na verdura da salada há bactérias patogênicas que vieram com a água suja da irrigação. Alguns empregados de supermercado contaminam frutas e verduras porque não lavam as mãos ao sair do banheiro. Aquele inocente amendoim que a gente compra no Mercado Municipal para fazer pé-de-moleque talvez tenha salmonela.
Nesta sexta-feira, o governo americano tomou uma providência para melhorar a qualidade dos alimentos. Lá, como as estatísticas são melhores, sabe-se que morrem 3.000 pessoas por ano por intoxicação alimentar, além de quase 200 mil internadas em estado grave e milhões de casos que não chegam a ser comunicados.
O controle vai custar US$220 milhões – muito menos do que qualquer estádio que vai virar elefante branco depois da Copa do Mundo. Identificar bactérias Coli, salmonela, shiguela, crisptosporidium custa bem menos do que pesquisar substancias químicas trazidas pelos defensivos agrícolas. E talvez seja mais importante.
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Nate Silver
Nate Silver é conhecido não apenas por predizer quem vai ganhar eleições, mas pela precisão das previsões.
Na avaliação final de 2012 ele deu a Obama 50.8% do voto popular e o número final foi 50.9%. Erro de apenas 0.01%. Acertou os resultados do pleito em todos os Estados dos EUA.
Seu livro The Signal and the Noise: Why So Many Predictions Fail – But Some Don’t virou um best seller instantâneo. Está disponível, por enquanto, apenas em inglês. A edição é da Penguin, tem 534 páginas e custa US$16.35 na Amazon (US$9.99 para ler no Kindle). Continue reading »
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Uma ajuda para 2013
A cada Ano Novo renovo agradecimentos e votos de saúde aos milhares de idiotas, néscios e pobres de espírito que andam por ai.
Sem eles, nosso sucesso seria muito mais difícil. (Mark Twain)
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É melhor ficar calado e parecer estúpido do que abrir a boca e acabar com as dúvidas.
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Adão era humano. Ele não queria comer a maçã porque era gostosa; comeu porque era proibido.
Se a serpente fosse proibida, ele comia a serpente.
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É impossível contar uma mentira da qual todo mundo duvide ou uma verdade em que todo mundo acredite.
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Jamais nasceu um grande homem em um pais de fatos pequenos.
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O caminho mais curto para o fracasso é copiar o método da concorrência.
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“A última vez que eu penetrei numa mulher foi quando visitei a Estatua da Liberdade”. (Woody Allen)
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Meu nome é Al Gore. Eu era o próximo presidente dos Estados Unidos.
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É preciso aprender a diferença entre o que é profundo, justo e ético e aquilo que vai dar certo.
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O público acredita em qualquer mentira, desde que seja suficientemente absurda.
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Em dezembro, este é o portal do fim do mundo
Disseram que o mundo ia se acabar.
Onde preparar o espírito para o momento anunciado? Escolho Santa Felicidade.
É sabido que Dante Alighieri inspirou-se neste bairro de imigrantes do Veneto para descrever o terceiro circulo do Inferno, o dos gulosos.
Por toda parte fotografo manifestações de glutonismo patológico. E gritos, gemidos, buzinas bestiais, caldeirões a levantar fervura, a cruel risada de Malacoda, o que tem rabo e é do mal.
Estou no lugar certo, não resta a menor dúvida: o fim do mundo – ou pelo menos o começo do fim do mundo – será aqui e em nenhuma outra parte de Curitiba.
Na mesa ao lado, um grupo de mulheres se prepara para a Travessia. Com certeza conhecem que estão condenadas porque pedem muitos martinis, vodca e vinho da casa. E misturam tudo.
Sob efeito dos espíritos gritam alto, riem do pobres colegas da repartição (ou será escritório?), debocham do chefe distante e da ridícula mulher que o cara foi arranjar não se sabe onde.
Lá fora Caronte, o barqueiro do Inferno, espera por clientes disfarçado de taxista.
Todo dia ele cruza várias vezes a Ponte do Aquironte, que, sob o nome de Rio Cascatinha, passa fétido ao lado do restaurante do mesmo nome antes de desaguar no Barigui.
Elas continuam bebendo vodca e vinho da casa, também denominado Vinagrão de Santa Felicidade. Agora, tontinhas, sacam seus cartões de crédito para pagar a conta (que não conferem) e ignoram os taxis.
-Se beber, dirija! – berra uma gordinha.
Com compreensível dificuldade acha a chave, liga o motor, dá uma aceleradinha. Aponta o bico do carro para a Manoel Ribas e vai.
O pega na madrugada será emocionante.
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Os patinhos se reunem – vai chover.
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Antes da tempestade, um por do sol impressionista no Parque do Barigui.
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Boca Maldita, dezembro de 2012.
O manual de jornalismo recomenda: seja breve. Atenha-se aos fatos.
O desafio é confirmar os fatos. Será que é verdade mesmo? Aqui há dez fofoqueiros para cada cidadão veraz.
No começa da década de 60, durante dois anos, escrevi com o entusiasmo dos estreantes, uma coluna sobre política e economia na página 2 da edição paranaense da Ultima Hora. As notas – 14 ou 15 todo o dia – eram obtidas na Assembleia Legislativa, na Câmara Municipal, em alguns gabinetes do governo e em escritórios.
Mas o tempero, o jeito sem cerimônia, o ethos da cidade, vinha de um trecho da Avenida Luiz Xavier, ex-João Pessoa, que começava após a esquina da Ermelino de Leão, onde ficava o Café Ouro Verde, e terminava 60 metros adiante, onde funcionou o Cine Ópera.
Na hora do almoço e no fim do dia as fontes surgiam para o cafezinho, o cigarro e o papo. Eram políticos, amigos dos políticos, inimigos dos políticos, aspones e boateiros compulsivos. Apareciam também advogados, juízes, promotores públicos, que formavam rodas separadas. E profissionais liberais de outras áreas. E vendedores. E picaretas – malandrinhos pálidos à procura da oportunidade de intermediar algum negócio e levar comissão.
Circulando de roda em roda, olho aflito no horário de fechamento da coluna, entre duas e três da tarde, eu tentava descobrir o que havia de real em cada história. Confirmava diariamente que o mundo é feito de maledicentes, incensadores, levianos – e pela minoria que, por algum motivo inconfessável, resolve contar a verdade.
Quando aparecia uma dessas joias raras às vezes era necessário omitir a fonte. E surgiu a fórmula: “Ontem, na Boca Maldita, um cidadão informava que…”
Por que Boca Maldita? Batismo oficial não houve. Ouvi o apelido do Anfrisio Siqueira, outros o escutaram do professor da UFPR Abrão Fucz. Ou do cartorário José Nocite.
Não sei se isso é importante.
Importante é constatar que, durante uns vinte anos, a Boca foi ágora, muro de lamentações, pátio de conflitos, onde se exibiam sem pudor as contradições da cidade. E jornalismo vive do conflito, como a democracia alimenta-se da contradição.
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O Campeche, uma das 12 praias sem poluição nos últimos dez anos.
Há esperança para quem quer entrar em um mar sem bactérias patogênicas.
O Diario Catarinense divulgou hoje uma lista das praias de Santa Catarina que nunca apresentaram sinais de poluição nos últimos dez anos.
A pesquisa é elaborada semanalmente pela Fundação do Meio Ambiente (Fatma) em 194 pontos ao longo de 560 quilômetros de costa.
Das 12 praias mais limpas do estado, quatro ficam em cidades ao Norte de Florianópolis – Bombinhas, Governador Celso Ramos, Itapoá e São Francisco do Sul – e outras três em duas cidades ao Sul do Estado: Imbituba e Laguna. Quatro das praias da Capital figuram na relação: três na região Leste da Ilha (Barra da Lagoa, Joaquina e Mole) e a Praia do Campeche, no Sul.
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Ela dirigiu um império mediático
O jornal The Guardian informa que a jornalista Rebekah Brooks deixou a News Corporation, de Rupert Murdoch, com mais 18,8 milhões de libras esterlinas (36.2 milhões de reais) na conta bancária.
Uma compensação pelos anos em que ela exerceu a função de principal executiva da News International no auge do escândalo da invasão de privacidade, que abalou a política inglesa. Ela é (era?) uma boa amiga do primeiro ministro James Cameron e do ex-primeiro ministro Tony Blair.
A informação oficial do grupo Murdoch não cita nomes. Apenas dá conta que um diretor não identificado recebeu 10.8 milhões de libras “como compensação pela perda do emprego”. O valor inclui vários benefícios, como o pagamento de um escritório do bairro de Marylebone – coração da City londrina – durante dois anos, com funcionários e tudo.
The Guardian diz: “entende-se que essa pessoa é Brooks.” Como fiel escudeira de Murdoch, ela foi compensada pelos perigos que correu administrando o jornal de escândalos News of de Word (fechado após as denúncia de phone hacking) e Sun, além das operações de TV e rádio.