Posts categorized Sem categoria
post
.
Estava na edição online do New York Times de ontem.
.
Caríssima e eterna Primeira Dama:
Em primeiro lugar, quero reiterar nesta cartinha a grande admiração de um brasileiro desapontado com as Primeiras Damas que andaram por Brasília.
Umas sem iniciativa para nada, aquele tipo que cuida dos filhos e não deixa faltar cerveja para o churrasco. Outras nem cuidar dos filhos sabem. Gastam o tempo com socialites.
Você é diferente. Você não chegou chegando. Não viveu em festas com as bacanas de Washington apesar do mar de convites. Fez um belo trabalho sem esnobar ninguém.
Um dia você escreveu, contando das coisas que tem em comum com o Barack: “Acreditamos que a palavra tem valor. A gente faz aquilo que disse que ia fazer. A gente trata as pessoas com dignidade e respeito, mesmo que não as conheça e mesmo que não concorde com elas.”
Ontem, li com tristeza o que você escreveu sobre a invasão do Capitólio e sobre o Trump, esse cara monstruoso que vocês elegeram.
Tive que ler duas vezes para me convencer que você pediu aos magnatas do Silicon Valley, ao Facebook, ao Twitter, ao Google, para “banir permanentemente esse homem de suas plataformas e adotar políticas para impedir que a tecnologia seja usada pelos líderes nacionais para fomentar a insurreição.”
Você pediu a censura, Primeira Dama.
Mais, você sugeriu “impedir que os meios de comunicação sejam usados para fomentar a insurreição.”
Convenhamos, Michelle, não há república sem insurreição.
Sem revolta, os Estados Unidos ainda seriam colônia da Inglaterra.
Não haveria movimento negro, porque aqueles líderes – Martin Luther King Jr, Malcoln X, Rosa Parks – eram fomentadores de insurreições.
Dos mais perigosos, porque usavam a tecnologia da comunicação para chegar a um público maior.
Em vez de sugerir a censura aos poderosos do Silicon Valley, por que não propor à sociedade, isto é, ao Congresso, a elaboração de leis que permitam ao país ter um mercado de telecomunicações e mídia vibrante e competitivo?
Por que não lutar para que todas – todas, heim? – as opiniões e informações sejam veiculadas com respeito absoluto à verdade?
Por que não iniciar uma luta missionária para que os cidadãos e as empresas sejam protegidos dos abusos do poder econômico?
É como você diz, Michelle: “A missão de consertar o que está errado não é trabalho de um político, nem de um partido político. Cada um de nós tem que fazer a sua parte.”
Cordialmente,
post
.
Os invasores posam para a fotografia no interior do Congresso.
.
Não passariam.
A polícia deixou que eles entrassem. Se fossem negros estariam machucados, sufocados, talvez baleados.
Mas eram homens brancos.
É isso. O bando de extrema direita que ocupou o Capitólio não teria passado pela porta de entrada. A lei não escrita manda tratar negros e esquerdistas com energia – o que é sinônimo de violência – e tolerar uma invasãozinha desse grupo de gente estranha.
Há seis meses a sede do parlamento do Kansas sofreu invasão muito parecida com essa.
Ninguém reclamou.
post
.
Os senadores receberam ordem para colocar suas máscaras de gás. Como? Leia as instruções.
.
post
.
Uma pincelada do Candinho – imaginem! – vale um monte de dinheiro.
.
O quadro acima é Lavadeiras, de Candido Portinari, de 1945.
Ao apresentá-lo a um grupo de amigos durante jantar em sua casa no Cosme Velho, o pintor revelou: estava rico é era explorado de maneira quase indecente pela família, que morava em Brodowski, no interior de São Paulo.
O pai, contou Candinho, chamou um trabalhador para um serviço de reparos na casa. “Quanto você vai cobrar?” -“Centro e cinquenta mil réis”. -“Não faça isso. Cobre mais. Meu filho é rico. Com uma pincelada ganha um montão de dinheiro.”
Os convivas eram Djanira e Milton Dacosta, um funcionário do Banco do Brasil não nominado, Marques Rebelo e Elza, o escritor espanhol Francisco Ayala, além do casal Drummond.
Rebelo lembrou o irmão de Portinari, que, vindo ao Rio, comeu de uma só vez dezoito maçãs importadas. “Ele pensa que é feijão”, justificou o pintor.
*
A vida era risonha para o poeta Drummond, que tinha bom emprego no ministério da Educação, recém instalado no prédio modernista construído por Lucio Costa e Oscar Niemeyer, a pedido de Gustavo Capanema.
Tinha uma sala no décimo andar e da janela contemplava a baia da Guanabara.
*
O diário de Drummond, chamado O Observador no Escritório, foi editado em 2020 pela Cia das Letras no formato esbelto de 14 por 21 cm. Comprei pela internet e recebi em dois dias. Sou absolutamente contra a privatização dos correios.
.
post
.
O governo inglês faz campanha contra o sausage roll, aqui conhecido como enroladinho de linguiça.
.
Adam Smith nasceu no dia 5 de junho de 1723 em Kirkcaldy, a 15 quilômetros de Edimburgo. Três anos depois, durante visita à família da mãe, foi raptado por ciganos.
Um tio conseguiu resgatá-lo e a pergunta inevitável é: -como seria o mundo se os ciganos sumissem para sempre com a criança?
Não haveria capitalismo? Ou, pior, haveria um capitalismo onde nem a mão invisível do mercado desse um jeito nos preços, na oferta, na demanda?
Difícil responder, mas com certeza não existiria o Centro Empresarial Adam Smith, que um construtor neoliberal ergueu no Batel – e onde há salas e conjuntos para alugar e vender porque a crise é braba e urge desimobilizar o capital.
Algumas dessas unidades foram usadas para garantir dívidas não pagas. Estão na Kromberg Leilões aguardando a melhor oferta.
***
Em Londres, o Instituto Adam Smith desenvolve vigorosa campanha contra as medidas do governo inglês para acabar com a junk food.
No site (www.adamsmith.org) ele afirma: “O governo revelou planos para o banimento total da publicidade online da chamada junk food. Isso influi alguns alimentos prediletos da família, de enroladinho de linguiça ao peixe frito, da mostarda ao molho de fermento.”
“A medida se aplica a todas as mídias sociais, sites comerciais e pessoais, e-mails e mensagens de texto.”
E mensagem conclui:
“Isso será mau para os consumidores, prejudicial aos negócios e em nada ajudará a reduzir os índices de obesidade na Grã Bretanha.”
Então é isso: se os ciganos tivessem sumido com Adam Smith talvez não houvesse na Inglaterra, e no mundo, lobbies contra as campanhas de saúde pública.
.
post
.
Fim de Ano no Bom Retiro.

.
.
post
Não faça aos outros o que você não quer que façam a você.
Essa é a essência do Torá.
O resto é explicação.
Rabino Hillel, citado por Saul D. Alinsky em “Regras para Radicais”
post
.
Memórias da presidência e algumas inconfidências engraçadas.
.
O novo livro de Barack Obama chama-se “A Promised Land” e está nas livrarias por 60 reais. Um time de tradutores garante a qualidade do texto em português: Berilo Vargas, Cássio de Arantes Leite, Denise Bottmann e Jorio Dauster. Para quem tem tempo e dinheiro vale tentar a versão original, por 260 na Amazon. Obama é um escritor ao mesmo tempo fácil e sofisticado.
Para mais informações sobre o livro temos a crítica da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, publicada no New York Times. Ela garante que Obama, como escritor, está entre os melhores. Um texto quase sempre agradável de ler frase por frase, “a prosa elegante, o detalhe vívido, granular.”
Porém, ela adverte, o autor não está livre de uma certa pose intelectual, advinda dos muitos anos no melhor ambiente acadêmico. Exemplo disso é a relutância às glórias de algumas de suas conquistas. A despretensão do Brilhante Liberal Americano aparece em alguns momentos, como quando foi comunicado da conquista do Prêmio Nobel da Paz.
-Mas por que? – indagou com uma modéstia que alguns desconfiam ser fruto de intenso treinamento.
O certo é que o livro é bom e Barack Obama um personagem intenso, quase sempre simpático aos brasileiros, apesar de tantas histórias sobre o papel dos presidentes americanos – todos eles – no comando de guerras desnecessárias e ações econômicas imperialistas.
Gosto dele. Afinal, um cara que aos 60 anos, continua fazendo cesta de três pontos do canto da quadra, tem que ser admirado.
*
P.S. – Atenção para Chimamanda Ngozi Adichie. É uma feminista importante. Ela diz que “perdemos muito tempo ensinando as meninas a se preocupar com o que os meninos pensam delas. Mas o oposto não acontece.”
post
Viva o Brasil
Onde o ano inteiro
É primeiro de abril
post
.
O girassol simboliza, segundo os antigos, fama, sorte e sucesso.
.
Girassóis explodem em amarelo no Bom Retiro.
Fazem parte de um grupo unido – os Helianthus annuus – cúpido de luz. Sei que a analogia não é perfeita, mas o girassol lembra a bancada do Centrão.
O grupo gira todos os dias, o dia todo, para onde o sol estiver.
Se o sol for substituído, impedido, trocado, tudo bem: os girassóis vão continuar girando.
*
P.S. – Inconstante mas esperto. Sua infidelidade tem objetivo – é volúvel para apropriar-se de raios de luz.
Ao contrário do galo-de-telhado, que gira com o vento. Às vezes à toa.
*
Outro P.S. – Mandam dizer que o STF anda girando mais que o girassol. Mas é uma opinião liminar.