O Bosque de Todos

Sob o Chapeu Pensador foram gestadas algumas das melhores ideias para Curitiba./Foto PMC

Minha admiração pela vereadora Laís Leão, que defende o Bosque da Copel, ameaçado pelos espigões da cobiça imobiliária. Ela é uma das boas exceções entre tantos vereadores que só dizem sim.

Um exemplo: eles disseram sim para a lei Nº 14.700, DE 28 DE JULHO DE 2015.

Essa lei autorizou a Prefeitura a implantar o Programa de Aluguel Social em Curitiba. O objetivo é dar um teto a quem vive em situação de despejo, ou habita áreas de risco, ou está em situação de emergência devido à enchente ou outra calamidade. O projeto foi aplaudido, aprovado por unanimidade e miseravelmente esquecido numa gaveta do prefeito Gustavo Fruet, que devia regulamentá-lo.

Ficou devendo. Depois dele, Rafael Greca passou oito anos na Prefeitura e também ficou devendo. Agora quem pode dar um empurrão no projeto de lei 14.700 é Eduardo Pimentel.

Não é provável que o faça. Atualmente Curitiba não constrói casas para o povo; constrói para o mercado. Cada metro quadrado de área construída no Bosque da Copel valerá entre 15 mil e 50 mil reais, dependendo da qualidade do projeto. Um apartamento de 90 metros quadrados custará no mínimo 1,3 milhão e pode chegar aos cinco milhões de reais. Com a pressão da sociedade de consumo, os valores vão dobrar em pouco tempo.

Pera aí: Curitiba se vangloria de ser uma cidade justa.

Então, considerando que a área do Bosque da Copel tem a melhor infraestrutura de transporte, saneamento, energia e comunicação da cidade, não é absurdo que destine, como ocorre em outros países, 20% das habitações para aluguel social. Comentei sobre isso com um amigo que objetou: quem gosta de morar ao lado de um beneficiário de aluguel social? Outro rebateu: quem não gostaria de morar ao lado dos melhores encanadores, eletricistas e técnicos digitais da cidade?

Jaime Lerner passou a vida ensinando isso – que a cidade ideal é aquela que reúne no entorno da moradia o trabalho, a escola, o comércio e o lazer. “Todas as vezes que separamos as funções de uma cidade não acontece coisa boa”.

Resumindo: o Bosque da Copel é importante. Tão importante como defender a própria Copel. Privatizada sem cuidado, qualquer hora ela não distribui mais energia – só dividendos.

Fundamental é proteger as atendentes da Copel, que coitadas sumiram, trocadas por robôs.

Defender o Bosque é tão urgente quanto exigir ligação de luz e de água, e posto de saúde com médico de plantão nas ocupações da periferia, como manda a Constituição.

Viva o Bosque da Copel! Viva a vereadora Laís e todos que toparem essa briga! Quem dera um deus ex machina caia sobre o Bigorrilho e transforme o espaço em Bosque de Todos – exemplo para o mundo de resistência pública, a mata de araucárias, imbuias, cabreuvas e cerejeiras aberta aos namorados na lua cheia de outubro.  

Enjoy Curitiba.

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Lembra dele?

Oração e oral têm a mesma origem semântica.

Daí nasceu a expressão sacrolibidinosa: “Ajoelhou, tem que rezar”.

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O mundo caminha para a teocracia

Depois que li a placa na entrada de Sorocaba – “Sorocaba é do Senhor Jesus Cristo” – e de Leme (os mesmos dizeres, em caixa alta e baixa) entendi o que acontece: o Brasil se transforma aos poucos em uma teocracia, começando pelas Câmaras de Vereadores.

Igualzinho aos Estados Unidos, onde pequenas cidades decidiram cumprir a Biblia ao pé da letra e entregar a Jesus o governo da urbe e aos homens o governo da casa. Os pastores governantes se intitulam “nacionalistas cristãos”, mas não se ofendem quando são chamados de teocratas.

Mais detalhes sobre essa transformação do regime constitucional de baixo para cima – que prossegue nos Estados e um dia chegará à reforma constitucional – podem ser encontrados na entrevista que o pastor evangélico Douglas Wilson concedeu ao jornalista Ross Douthat, que escreve sobre religião para o New York Times e que pode ser encontrada em https://www.nytimes.com/2025/10/09/opinion/doug-wilson-america-religion-theocracy.html.

Os dois especulam sobre o que acontecerá quando o estado teocrático liberal for instalado e quais as mudanças que podem ocorrer em nosso modo de vida.

O pastor Wilson chefia uma comunidade de 3.000 fieis em Moscow, Idaho. É um líder de convicções firmes e tem boa memória. Exemplo: “Tenho saudades da época em que fiz meu primeiro sermão. O homossexualismo era proibido então; os sodomitas iam para a cadeia, junto com os falsários, os assassinos e os assaltantes de banco”.

“O secularismo é uma experiência fracassada. As sociedades precisam de um fundamento transcendental para funcionar bem”.

“A Bíblia diz que as adúlteras podem ser apedrejadas”.

“O sexo pré-marital (fornicação) é proibido. Mas não chega a ser um crime. Deve-se estudar como será punido”.

Aqui duas afirmações que o pastor Edir Macedo vai apoiar.

“Precisamos limitar o governo. Ele deve ser significativamente menor do que é – e intrometer-se menos em nossas vidas”.

“A oração será obrigatória em todas as escolas”.

A boa notícia, segundo o pastor Wilson, é que, embora Deus esteja do lado dos protestantes calvinistas, os católicos romanos e os judeus não serão perseguidos.

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Pague no Pix, mas fique esperto

A ANP, Agência Nacional do Petróleo, baixou uma ordem para todos os postos de gasolina: mostrem os preços.

Muitos ostentam um preço bacana e quando você chega na bomba o valor é outro, bem maior. “Esse aí é só em dinheiro ou no pix”, explica o funcionário.

A decisão foi tomada devido a centenas de reclamações e denúncias. A diferença entre os dois preços – em alguns casos de quase 10% – estaria sendo usada para lavar dinheiro.

Este posto, na esquina da Martim Afonso com Brigadeiro Franco, entendeu a ordem da ANP e expõe a diferença de maneira bem clara.

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Tem mercado especulando com azeite de oliva. Procure preço

Uma seca provocou quebra na safra de azeitona em 2023. O preço do azeite de oliva subiU como rojão mas ao contrário dos rojões não caiu mais.

Ontem, no Globo, o CEO do Grupo Sovena, Jorge de Melo, disse que o abastecimento foi restabelecido e o preço está caindo. O grupo é dono do Azeite Andorinha, que puxa a fila da descida.

Sem especulação, o preço da garrafa de 500 ml do tipo extra virgem, no varejo, oscila entre quatro e seis dólares. Faça a conta e procure preço.

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Futebol não tem lógica. Que tal usar a lógica da Inteligência Artificial?

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A IA entende a bola.
Para quem gosta de futebol, os padrões em campo — o ataque que avança, se expande para as laterais do campo e pressiona a defesa, o contra-ataque (transição) que começa do nada — são fascinantes e fáceis de acompanhar. 
 
Para um modelo de inteligência artificial (IA), no entanto, não é fácil entender o que está acontecendo. O vídeo bruto do jogo está repleto de informações, a maioria irrelevantes. A primeira coisa que um engenheiro de IA precisa fazer é ensinar ao modelo o que importa e o que não importa. 
 
Para analisar táticas de futebol, as posições dos jogadores e da bola são um bom ponto de partida. Mas um time não é apenas um conjunto de jogadores isolados; é uma rede de relacionamentos.
Essas redes, que os matemáticos chamam de grafos, são compostas de nós conectados por arestas. Em um campo de futebol, cada jogador é um nó distinto, com arestas capturando interações como passes e tackles. 
 
Uma partida pode ser representada como uma sequência evolutiva de grafos – e nela você não encontrará dois iguais do pontapé inicial ao apito final.
Modelos de IA capazes de analisar essas informações são conhecidos como redes neurais de grafos (GNNs), podem ser usados ​​para identificar  padrões que representam perigo para uma equipe e, consequentemente, como e quando evita-los. 
 
Muitas áreas da ciência, da biologia ao marketing, usam os GNN. Recentemente o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) convidou Joris Bekkers e Amod Sahasrabudhe, dois analistas esportivos, para apresentar o modelo que desenvolveram enquanto estavam na Federação de Futebol dos Estados Unidos. Este modelo prevê contra-ataques usando um método originalmente concebido para prever como os átomos se unem para formar cristais.
 
Todo modelo é uma simplificação; os baseados em grafos não são exceção. Eles são bons para representar interações entre pares de nós. Para capturar uma formação defensiva de quatro pessoas, outras estruturas, ainda mais complexas, tem que ser chamadas do banco de reservas. 
(The Economist)
 A IA está mudando o futebol dentro e fora do campo. Mudou o jeito do time jogar, mudaram os os critérios para escalar jogadores, a política de contratações não é a mesma. Este é um primeiro texto sobre as relações entre o futebol e a IA que encontrei em The Economist e achei importante traduzir. (AFSJ)

Para quem gosta de futebol, os padrões em campo — o ataque que avança, se expande para as laterais do campo e pressiona a defesa, o contra-ataque (transição) que começa do nada — são fascinantes e fáceis de acompanhar.

Para um modelo de inteligência artificial (IA), no entanto, não é fácil entender o que está acontecendo. O vídeo bruto do jogo está repleto de informações, a maioria irrelevantes. A primeira coisa que um engenheiro de IA precisa fazer é ensinar ao modelo o que importa e o que não importa.

Para analisar táticas de futebol, as posições dos jogadores e da bola são um bom ponto de partida. Mas um time não é apenas um conjunto de jogadores isolados; é uma rede de relacionamentos. 

Essas redes, que os matemáticos chamam de grafos, são compostas de nós conectados por arestas. Em um campo de futebol, cada jogador é um nó distinto, com arestas capturando interações como passes e tackles.

Uma partida pode ser representada como uma sequência evolutiva de grafos – e nela você não encontrará dois iguais do pontapé inicial ao apito final. 

 

Modelos de IA capazes de analisar essas informações são conhecidos como redes neurais de grafos (GNNs), podem ser usados ​​para identificar  padrões que representam perigo para uma equipe e, consequentemente, como e quando evita-los.

Muitas áreas da ciência, da biologia ao marketing, usam os GNN. Recentemente o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) convidou Joris Bekkers e Amod Sahasrabudhe, dois analistas esportivos, para apresentar o modelo que desenvolveram enquanto estavam na Federação de Futebol dos Estados Unidos. Este modelo prevê contra-ataques usando um método originalmente concebido para prever como os átomos se unem para formar cristais.

Todo modelo é uma simplificação; os baseados em grafos não são exceção. Eles são bons para representar interações entre pares de nós. Para capturar uma formação defensiva de quatro pessoas, outras estruturas, ainda mais complexas, tem que ser chamadas do banco de reservas.
(The Economist)

 

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PODE PEDALAR NA FRENTE DO ÔNIBUS, CARA. É SEU DIREITO 

É saudável a convivência de ônibus e bicicletas. Foto do autor

1689 foi um ano bom para a humanidade. O Parlamento inglês aprovou a Declaração de Direitos, que limitou o poder da monarquia e garantiu direitos fundamentais aos cidadãos. Entre eles, o de ir e vir.

Uma das consequências é isso que se vê hoje em Londres, Paris e outras capitais do mundo: ruas calmas, ciclistas nas canaletas, que dividem com os ônibus.

Pedalam sem pressa, porque o ônibus geralmente vem a 20 por hora – também não tem pressa em concluir seu trajeto de quatro ou cinco quilômetros. Quem precisa ir mais longe, chegar mais rápido, vai no metrô que corre seguro no subsolo.

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Uma questão ética no Planeta Diário, denuncia o New York Times. Assunto bom para jornalista refletir

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Penfield, New York, USA – October 30, 2009: Young man dressed in a Superman costume pulls off his outer shirt and tie.

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Em 20 dias, Superman, do diretor James Gunn, teve mais de três milhões de ingressos vendidos. O absoluto sucesso do velho herói dos quadrinhos leva a discutir questões profissionais embutidas na história.

Se é verdade que o Super-Homem não resiste a um pedaço de kriptonita, também é verdade que o repórter Clark Kent seria reprovado em um teste de ética jornalística.

Quem diz isso é George Gene Gustines, que escreve há vinte anos sobre histórias em quadrinhos para o New York Times. Em artigo publicado dia 11 de julho, ligado ao lançamento da nova versão cinematográfica do super herói, Gustines lembra que desde 1938, quando apareceu pela primeira vez no jornal, Clark usa informações que chegam à redação do Planeta Diário para conseguir furos e ganhar promoções. O texto integral está em https://www.nytimes.com/2025/07/11/arts/superman-lois-lane-clark-kent-journalism.html

Exemplo: em 1986, a repórter Lois Lane, escalada para cobrir as atividades do Super-Homem, está para conseguir um furo. Mas Clark, informadíssimo, pula na frente, obtém uma exclusiva e sobe um degrau na hierarquia da redação.

Gustines ouviu um dos mais conhecidos escritores de HQ, Mark Weid, que tem um olhar condescendente para as espertezas e manhas do repórter Clark Kent.
“É verdade que ele conseguiu seu emprego escrevendo as melhores histórias sobre o Super-Homem. Isso prova apenas que ele é bom em tirar vantagem do sistema.”

Kelly McBride, do Instituto Poynter, que analisa a ética nas redações de grandes e pequenos veículos de imprensa, não concorda: “Alguem capaz de produzir manchetes todo o dia, não pode ser também o jornalísta que divulga os feitos em primeira mão”.

Em Homem e Super-Homem (2019), o escritor Marv Wolfman e o desenhista Claudio Castellini revelam que Clark mudou para Metrópolis por causa do Planeta Diário, que, segundo Clark, “produz imagens indeléveis com palavras do jeito que nenhum outro jornal jamais produziu.” Está apaixonado pela prosa de Lois Lane: “Ela é o máximo. Suas matérias duras, reais, corretas, engraçadas e inteligentes são produto de uma grande escritora.

Wolfman está entre os que não veem problema em Clark escrever reportagens sobre o Super-Homem. “Ele está narrando fatos, sem opinar sobre eles”.

Mais tarde as coisas se complicam. Lois, agora casada com Clark, é promovida a chefe de redação, ele é o principal repórter. O redator Rainbow Rowell e o desenhista Cian Tormey apontam o conflito de interesses que é expressado por Lois.

-Não posso colocar meu papel de repórter a frente de meus deveres como Super-Homem. Eu sou o Super-Homem.

-Sei, Clark, ela replica. –E eu sou a editora-chefe.

Kelly McBride (www.poynter.com) pondera que Lois não pode, como chefe de redação, supervisionar o trabalho de seu marido. Há um claro conflito de interesses.

A solução é encontrada quando Lois transfere Clark para a reportagem geral. Ele reclama, ela confirma a decisão com um mantra do jornalismo.

-Não existem fatos pequenos. Existem repórteres que não veem as grandes histórias escondidas atrás dos pequenos fatos.

-Você já escreveu grandes obituários? – ele debocha.

Com o tempo fica claro que Lois tem razão e Clark revela-se excelente em matérias de interesse humano. Seus textos começam a ganhar espaço na primeira página e parecem indicar um novo caminho para o bom jornalismo.
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Morre a doutora Dúlcia, engenheira que cuidava da Curitiba que ninguém vê – e via a Curitiba que ninguém cuida

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A doutora Dúlcia Auríquio, falecida ontem, foi uma heroína de Curitiba.

Engenheira recém formada, prestou concurso, assumiu um cargo no setor de obras e nunca mais saiu de lá. Estudiosa, devotada ao serviço público – à missão. Eis alguém que merece ser nome de rua, de praça ou – melhor do que tudo – ser nome de rio.

Seu carinho pelos rios da cidade – Passauna, Barigui, Balém, Atuba – era tanto que todo mês de outubro vestia botas impermeáveis e se enfiava pela rede subterrênea de rios encaixotados e túneis de escoamento de água de chuva. Aos auxiliares ditava relatórios sobre os pontos de estrangulamento, onde a rede estenosada poderia não resistir às chuvas do verão e provocar inundações.

Quem acompanhou essas inspeções relatava horrores. Os curitibanos descartavam no rio tudo que pareçia inútil: cobertores, panelas, louça sanitária, sofás, a imensa televisão da sala com seu tubo de raios catódicos cheio de chumbo, mercúrio, bário e outros venenos mortais. Era ainda maior a quantidade de colchões, edredons, isopor, brinquedos de plástico, pneus, toneis e outras inutilidades.

Os relatórios não ficavam na Secretaria de Obras – iam para a mesa do prefeito onde inspiravam campanhas educativas, como as de Jaime Lerner (SE-PA-RE e troca de lixo por alimentos orgânicos, para só citar as mais afamadas). Os prefeitos gostavam da doutora Dúlcia e ai deles se não gostassem. Um prefeito de Curitiba desinteressado da questão ambiental? Melhor ficar longe de alguém assim.

Um dia, para entender Curitiba, pedi ajuda de sua sobrinha Lucélia e consegui uma longa entrevista.

-A gente pode almoçar com ela?

-Só se for no Colibri.

O fraco da doutora Dúlcia era a cozinha do restaurante Colibri, na Lisimaco da Costa, onde às vezes o prefeito ia almoçar com algum convidado.

Durante mais de duas horas anotei a história daquela engenheira formada na Universidade do Paraná no tempo em que mulheres não faziam engenharia. Antes dela só a pioneira Enedita Alves Marques e Franchete Garfunkel, depois Rischbieter, que também era devotada funcionária da cidade. É bom repetir: da cidade. Elas não trabalhavam para a prefeitura, muito menos para determinado prefeito. Trabalhavam para a cidade de Curitiba.

Ou talvez seja melhor mudar a preposição: trabalhavam pela cidade de Curitiba.

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Saiu no Marca

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Coisas que você pode cxozinhar em menos de 10 minutos.

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